segunda-feira, 18 de julho de 2011

18.07.2011 - Navegar, Navegar


Alinhamento:

1.   I am Calling Out - Master Musicians of Jajouka - Brian Jones Presents the Pipes of Pan at Joulouka (1971)
2.  Atabat (2) - Omar Souleyman - Highway Hassake (2006)
3.  Haqq Ali Ali - Nusrat Fateh Ali Kahn - Sufi Soul: The Echoes of Paradise (1997)
4.  Radio Jaipur - Radio India: The Eternal Dream of Sound (2004)
5.  Our Traditional Music is Most Sensational! - Nat Pwe - Leafs, Drunks, Distant Drums (2004)
6.  Mama Loo & Ata Uma Cinta Arededor Del Viejo Roble -Sérgio del Rio Y Su Conjunto - Latinamericarpet: Exploring The World Of Latin American Psychedelia Vol. 1 (2007)
7.  Nosso Amor - António Carlos Jobim - Orfeu Negro (1959)

segunda-feira, 11 de julho de 2011

11.07.2011 - O Largar Amarras

É impossível remontar ao momento em que, pela primeira vez, o Homem sentiu o ímpeto de exploração do misterioso e intrigante Grande Azul. Há 40.000 anos, já redes e fios rasgavam a ténue superfície do Mar em busca de peixes e bivalves, abundante sustento sob a imensidão das águas. Da China à Califórnia, espalhavam-se os barcos de pesca que começavam a tecer a história da incansável conquista marítima. Os barcos passavam a navegar mais tempo, e o azul distante aliciava a partir, desafiava tumultuosamente as mentes humanas, incitando-as a ir cada vez mais além, sem olhar a dificuldades. O brilho do horizonte era um chamamento demasiado forte. A insegurança de largar amarras, balançando numa casca de noz, submetida às forças e vontades do imenso oceano, visando voltar novamente a prendê-las em solo desconhecido era o motor que fazia, e efectivamente fez, toda a civilização evoluir incessantemente. A filosofia estóica representava a vida como um Rio encaminhando-se para o Mar, o Fatum. Para a humanidade, possivelmente o Mar será realmente o Destino, e para isso muitos Homens lá ficaram, e se perderam, mas para esta, nunca foi nem será um fim, apenas um meio para chegar a novo Rio.

Nas praias de Belém, em pleno século XV, incontáveis foram as naus que, à descoberta, partiam. Todo o Restelo se enchia para ver os corajosos portugueses que, desafiando as mais altas leis da humanidade, partiam sem garantias de voltar, buscando apenas o inalcançado, o nunca visto, a riqueza da imortalidade, muitas vezes destroçada em angústias e sofrimentos, silenciada pelas vagas, pela fome ou pela loucura. O ouro, especiarias ou escravos que os esperavam do outro lado do horizonte, pouco significavam perante a aventura que se lhes deparava, e era sim o peso do Brasão de Afonso Henriques, da coroa de El Rey, que os impulsionava, que lhes concedia o fulgor necessário para desbravar o infindável.

Na praia, coloridos soldados, ajudantes de carga, Nobres orgulhosos, e toda a multidão lisboeta, lavadeiras, lavradores, pequenos burgueses e juventude pintava um pitoresco e singular retrato, imerso numa malha sentimental intensamente intrincada. Por entre tais figuras, eram as lágrimas que corriam pelas faces das jovens mulheres, as inocentes e angustiadas caras das crianças já orfãs abraçadas, pela última vez, à figura paternal que lhes havia de permanecer na memória. Se para os navegadores, no sofrimento de tudo perder havia a esperança de tudo ganhar, a ânsia e o desafio, o brio das cores azuis e brancas, para os familiares restava apenas um vazio. As lágrimas eram anos de incertezas, de desespero, de sonho e pesadelo. Assombrava àquelas mulheres a educação de um filho sem Pai, a queda do sustento, do pão que parcamente os alimentava, mas era o Amor, a sua perda, que mais feria aqueles corações de mãe, esposa, filho. A cara mal barbeada que agora se preparava para embarcar desapareceria dos jantares de Domingo, deixaria de abraçar uma calorosa mãe, de passar a mão paternalmente pelos cabelos do filho, de beijar fervorosamente a mulher que a amava, acompanhando-a nas noites frias, nas dificuldades, ou nos passeios ao fim da tarde, por entre risos e carinhos.

 A nau largava agora amarras, sob o bramido dos aplausos, e rasgava em espuma branca a superfície onde, talvez até ao fim de seus dias, encontrariam o Amor distante. Defronte, só a imensidão azul do Tejo.

 “Já a vista, pouco e pouco, se desterra
Daqueles pátrios montes, que ficavam;
Ficava o caro Tejo e a fresca serra
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam.
E já despois que toda se escondeu,
Não vimos mais, enfim, que mar e céu.”
Luiz Vaz de Camões

Alinhamento:

1.      Pt.5 Within the Walls of Neptune - John Surman, Jack DeJohnette
2.      Ao Longe o Mar - Madredeus
3.      O Exercício - Rodrigo Leão
4.      O Mar - Madredeus
5.      Sossego - Rodrigo Leão
6.      O Navio - Madredeus c/ Carlos Paredes
7.      E o Bosque se Fez Barco - Manuel Alegre & Carlos Paredes
8.      Lisboa e o Tejo - Carlos Paredes:
Canto do Amanhecer
Serenata no Tejo
Dança dos Montanheses
Canto de Trabalho
Verdes Anos
Canto de Rua
Canto do Rio
9.      Balada da Distância - Luiz Goes
   10. Partida - Sétima Legião