segunda-feira, 8 de agosto de 2011

08.08.2011 - George Percy Aldridge Granger



Nascido a 8 de Julho de 1882 num subúrbio do Norte de Melbourne, Austrália, filho de arquitecto emigrante britânico e da filha de um hoteleiro em Adelaide. Com uma educação caseira e extremamente conservadora, principalmente por parte da mãe, cedo se revelou notável pianista, tendo iniciado aulas com o alemão Louis Pabst aos 10 anos. A sua primeira composição “A Birthday Gift to Mother”, data de 1893, tinha Percy 11 anos. Um ano depois, tocava a solo Bach, Beethoven e Schumann no Melbourne Masonic Hall, numa performance bastante aclamada pela crítica local. Aos 13 anos ingressava no Conservatório Hoch em Frankfurt, para onde viajou com a mãe, separada já do revelado promíscuo marido.

A chegada à Europa foi marcante para Percy, catapultando-o para as emergentes esferas artísticas do centro europeu. Entre concertos de piano de Tchaikovsky, graças da crítica e tertúlias com alunos britânicos mais velhos, o jovem artista começa a formar o seu próprio perfil como compositor. As novas influências impulsionavam-no no sentido contrário aos dos conservadores modelos europeus de Mozart, Chopin e Wagner, introduzindo-se nas novas tendências revolucionárias. Por esta altura, começou também um projecto de musicar Rudyard Kypling, cujo lirismo e musicalidade tanto o inspirava como influenciava. Após certificar-se que alcançava uma posição confortável como pianista profissional, de modo a poder sustentar-se a si e à mãe, acaba por fixar-se em Inglaterra. A cultura do norte do continente sempre fascinara o ausrtaliano, que inclusivamente expressara opiniões e comentários anti-semitistas e raciais. Contudo, as ligações que Percy Grainger estabeleceu com a cultura popular mundial revelaram-se extraordinárias.

Com a invenção do fonógrafo em 1877 pelo americano Thomas Edison, a visão do artista em relação à música foi completamente alterada. O som não se limitava jamais a notas expressas em pauta, os compositores podiam experimentar sem recear perder os resultados e, não menos importante, permitiu registar música como nunca antes fora feito, com toda a introdução do sentimento, da genuinidade e dos nuances vocais e instrumentais. Já em terrenos britânicos, Percy Grainger inicia uma demanda que tantos outros perpetuaram, sendo um pioneiro na recolha da música tradicional. No verão de 1906, com os cilindros de Edison às costas, e uma equipa técnica, calcorreou as costas da Grã Bretanha, cativando as populações com a sua pouco ortodoxa e peculiar personalidade. Em casa, ouviu as horas de gravação vezes sem conta, a tempos de rotação diferentes, apreendendo todos os pormenores, e absorvendo tudo o que estes iletrados pescadores, marinheiros, homens e mulheres, com a sua secular tradição oral, apaixonadamente cantavam e tocavam.

As notas intermédias - a flexão do tom, o enrugamento da textura do timbre, a aceleração e desaceleração das pulsações preencheram a mente compositora de Grainger, aplicando essa liberdade nas suas partituras. No Verão de 1908, numa passagem por um pequeno ajuntamento costeiro em Devon, ouviu um marinheiro a entoar “Shallow Brown”. A partir dela, construiu uma canção sinfónica para soprano, coro, e uma invulgar orquestra incluíndo guitarras, ukeleles e bandolins. “Trémulos de cordas agitam-se como rebentações, instrumentos de sopro agudos gritam como gaivotas, instrumentos de som mais graves fazem lembrar criaturas terríveis das profundezas. A voz navega lá em cima, fazendo explodir lá fora as melodias e compasso para levar a emoção até casa: “Shallow Brown, u’re going to leave me”

Nos anos que se seguiram, Grainger prosseguiu por costas irlandesas e escandinavas, começando também a compor originais inspirados, mas sem origem, em temas populares recolhidos, num modelo que rejeitava as imposições clássicas europeias de formatação musical. Grainger não compunha sonatas, sinfonias ou ópera, produzia música. Acabaria também por, com Shoenberg, Ives e Debussy, se assumir como percussor da atonalidade, e da libertação dos acordes e harmonias tão limitadores. Na Noruega, estabeleceu também fortes ligações com Edvard Grieg, com quem viria a colaborar e compor. Em Inglaterra colaborou igualmente com Frederick Delius, a quem inclusivamente sugeriu a interpretação do tema popular por ele recolhido, Brigg Fair.

Embora louvasse as suas tendências norte-europeias, arianas e algo extremistas, Grainger orgulhava-se da sua origem australiana, e numa série de viagens que realizou à terra natal, procedeu à recolha de temas Maoris, e das ilhas Indonésias, de Salomão, de Samoa e Faroé. A partir dela, foram assinaláveis as influências rítmicas e harmónicas assumidas nos anos que se seguiram.

O trabalho de Grainger como investigador etnográfico teve repercussões de enorme dimensão, marcando o pensamento e o modo de compor de toda uma geração que lhe seguiu, sendo o trabalho de Bela Bartòk, com as suas recolhas históricas do leste europeu, o mais notável, e, como não podia deixar de ser referenciado, o trabalho levado a cabo pelo córsego Michel Giacometti em terrenos nacionais.

Percy Grainger faleceu a 20 de Fevereiro de 1961, em território norte-americano, onde residia desde o despertar da primeira Grande Guerra. Humilde e dedicado à mãe, morreu pianista, recusando todos os convites para assumir orquestras. Atrás de si, deixou um museu dedicado ao seu trabalho em Melbourne, uma colecção de instrumentos e máquinas musicais inovadores direccionados para o que ele apelidava de “música livre”, e um gigantesco legado como instrumentista, compositor, e etnomusicólogo.


Alinhamento:

1.      Lincolnshire Posy:
. Lisbon
. Horkstown Grange
. Rufford Park Poachers
. The British Young Sailor
. Lord Melbourne
. The Lost Lady Found
2.      Sailor’s Song
3.      Colonial Song
4.      Shenandoah
5.      Shallow Brown
6.      Brigg Fair (arranjo de Frederick Delius)
7.      Let’s Dance Gay In Green Meadow
8.      Father and Daughter
9.      Ramble On Love
10.  Molly On the Shore

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