segunda-feira, 22 de agosto de 2011

15.08.2011 - Marie Celeste


“Terminámos ontem á noite o carregamento, e devemos partir 3ª de manhã, se não já esta noite, permitindo Nosso Senhor. A embarcação está em perfeito estado e, embora nunca nela tenha viajado e nada possa assegurar, espero que tenhamos uma boa viagem. Dentro de aproximadamente 20 dias, deverá poder escrever-nos para Genoa.

Espero estar consigo na Primavera, com muito amor.

Afectivamente seu

Benj”



Benjamin S. Briggs, Capitão, estado-unidense, 37 anos.
Sua esposa Sarah Elizabeth Briggs, estado-unidense, 31 anos.
Sua filha, Sophia Matilda Briggs, estado-unidense, 2 anos.
Albert G. Richardson, Oficial, estado-unidense, 28 anos.
Andrew Gilling, segundo oficial, dinamarquês, 25 anos.
Edward Wm Head, comissário de bordo e cozinheiro, estado-unidense, 23 anos.
Volkert Lorenson, marinheiro, alemão, 23 anos.
Arian Martens, marinheiro, alemão, 23 anos.
Boy Lorenson, marinheiro, alemão, 23 anos.
Gottlieb Gondeschall, marinheiro, alemão, 23 anos.

Na madrugada do dia 5 de Novembro de 1872, partia de Nova Iorque o navio Mary Celeste.  Bergantim de 282 toneladas, construído 11 anos antes na Nova Escócia, antes conhecido por Amazon, passara já por muitas mãos antes de chegar às do Capitão Briggs e seus sócios. No porão, 1701 barris de alcoól puro tinham como destino o porto de Genoa, Itália. O tempo estava calmo. Jovem, mas hábil e de bom currículo, a tripulação dirigia a embarcação, enquanto debaixo da madeira do convés, Sarah deitava a pequena Sophie. Possivelmente sopraria uma fria brisa de um bonito dia de Inverno, parcas nuvens, o barulho da metrópole a ser deixado para trás. À frente, só o longínquo horizonte, a ténue linha que se funde o azul do céu com o azul do mar. O barulho do casco a cortar a água inspirava tranquilidade.

Sete dias depois, partia Dei Gratia, navio mercante canadiano comandado pelo Capitão David Reed Morehouse, íntimo da família Briggs. A sua rota coincidia com a do Mary Celeste, mas problemas com as mercadorias obrigaram a tripulação a partir com uma semana de atraso. As condições mantinham-se, calmas, e não tinha sido registado nenhum percalço meteorológico na semana que passara. Nesse sentido os ventos continuaram a soprar, e pouco mais que vinte dias depois, tinham já atravessado o Atlântico. Por esta altura, já o Capitão Briggs estaria em Genoa com a família, aproveitando uns merecidos dias de descanso. Estavam a 600 milhas da costa portuguesa, em direcção ao Estreito de Gibraltar, na tranquila tarde do dia 4 de Dezembro, quando o timoneiro John Johnson avista um navio, avisando a restante tripulação. A embarcação vizinha navegava, aparentemente sem qualquer anomalia, com o mesmo rumo do Dei Gratia. John Johnson, atento, perscrutava-o ao longe. A bordo, não se avistava uma única sombra humana. Aproximando-se, curiosos com o estranho facto, puderam ler a inscrição lateral em que, com letras grandes, se lia Mary Celeste.

Oliver Deveau, oficial chefe do Dei Gratia, entrou a bordo. Exceptuando o convés molhado, a embarcação estava em perfeito estado, pronta para navegar. A mercadoria permanecia intacta, os mantimentos intocados, e, sem contar com o diário de bordo, nenhum outro papel ou documento lá se encontrava. As escotilhas estavam abertas, e o bote salva-vidas ausente. Dos dez tripulantes do Mary Celeste, não se identificava um sinal.

Em Gibraltar o navio foi submetido a profunda análise pela polícia. Para adensar o mistério, 9 ds 1701 barris, embora intactos, estavam completamente vazios. Não se verificava um sinal de luta, um testemunho, uma marca identificadora. Dez seres desvaneceram-se, e nada o podia explicar.

Um caso de pirataria estava desde logo excluído, tento pelo patrulhamento levado a cabo pelo império britânico em Gibraltar, como pela ausência de sinais de violência e por nada ter sido pilhado. Um improvável assassinato de Briggs e sua tripulação pelo Dei Gratia também se torna impossível, devido ao atraso que este levava. Nenhum tsunami ou maremoto foi notado pela população açoriana, nenhuma tempestade ou remoinho foi registado. O álcool dos 9 barris vazios pode ter evaporado e, por causa desconhecida, inflamado, levando-os a abandonar o navio, mas nunca tal situação se identificou, e verificar-se-iam necessariamente tanto resíduos gasosos de etanol como mais barris vazios.

Dos dez, nunca nenhum deles voltou a ser visto.

Versões da história, como a narrada por Sir Arthur Conan Doyle, afirmam que Deveau, a bordo, encontrou uma mesa posta com chá ainda quente e, a um canto, o cachimbo de Briggs fumegava.

O Mary Celeste continou como navio mercante até Janeiro de 1885. Numa tentativa de fraude a uma seguradora, o então capitão incendiou o navio ao largo do Haiti. As chamas tomaram o navio. Contudo, depois de se apagarem, revelaram o navio sem qualquer dano. Do pouco que ardeu, conta-se o diário de bordo de Briggs. Hoje, o Mary Celeste descansa sob um manto de corais, em ruína. No interior da sua madeira, está encarcerado o mistério eterno das dez vidas nunca encontradas.

Alinhamento:

1. Nurse with Wound - Salt Marie Celeste

Podcast

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